Teoria de Quinta – Merrill Swain
Por Que Só Ouvir Não Basta: O Poder (Subestimado) de Falhar em Outro Idioma
Você que está acompanhando ao Teoria de Quinta viu que alinhamentos e descordancias fazem parte do mundo acadêmico e teórico. Agora, vamos para mais uma visão sobre as aprendizagens e quisições que nunca devem ser descartadas. Este emblemático embate foi entre “aluno e mestre”.
Se Krashen nos convenceu de que o input é rei, Merrill Swain veio lembrar: “Um reino sem ação vira um castelo de areia”. Nesta edição da Teoria de Quinta, exploramos a Hipótese do Output — o contraponto científico que prova por que falar (e errar) é tão crucial quanto entender. E de quebra, desvendamos o conceito de intake, a peça que faltava no quebra-cabeça da aquisição.
(Como sempre, o título “Teoria de Quinta” é um convite à reflexão, não um reducionismo. Swain merece mais que um meme — mas ciência também merece ser discutida sem torres de marfim.)
Quem Foi Merrill Swain?
Linguista canadense e ex-aluna de Krashen, Merrill Swain sacudiu os anos 1980 com uma pergunta simples: “Se input sozinho fosse suficiente, por que tantos alunos entendem bem mas travam na hora de falar?” Sua resposta, a Hipótese do Output (1985), complementou (e desafiou) as ideias do próprio Krashen, tornando-se base para métodos como Task-Based Learning*.

Nascida em 1944 no Canadá, Merrill Swain começou como professora de francês antes de se tornar uma das vozes mais influentes na aquisição de L2. Sua trajetória única — da sala de aula para a academia — explica por que suas ideias são tão práticas:
- Prêmios e Legado: Ganhou o Prêmio Distinguished Scholar da American Association for Applied Linguistics (2014) e hoje, aos 80 anos, ainda publica estudos.
- Aluna de Krashen: No início dos anos 1970, estudou com o pai do input compreensível, mas logo questionou: “Por que meus alunos de imersão entendem tudo, mas falam como robôs?”.
- *Mãe do Task-Based Learning: Seu trabalho em escolas canadenses de imersão francesa mostrou que tarefas reais (ex.: debater um filme) geram mais aquisição que exercícios estruturais.
Os Dois Lados da Moeda: Output + Intake
1. A Hipótese do Output
Swain argumenta que produzir linguagem (falar, escrever) não é só um resultado da aquisição — é parte essencial do processo. Por quê?
- Função de Consciencialização: Quando você tenta falar, percebe buracos no seu conhecimento (ex.: “Como se diz ‘aluguel’ em alemão mesmo?”). Essa tensão cognitiva gera aprendizagem.
- Função de Teste de Hipóteses: Ao dizer “I goed to school”, você testa uma regra internalizada. O feedback (um instrutor corrigindo “went”) ajusta sua gramática mental.
- Função de Reflexão Metalinguística: Output força você a pensar sobre a língua (ex.: “Por que ‘many people’ é certo, mas ‘many waters’ soa errado?”).
Tradução prática:
- Input te dá vocabulário passivo.
- Output transforma esse vocabulário em ferramenta ativa.
2. O Conceito de Intake (Corder, 1967)
Antes de Swain, o linguista S. Pit Corder cunhou o termo intake para descrever o input que efetivamente vira aquisição. Não basta ser exposto à língua — você precisa:
- Notar o elemento novo (ex.: perceber que franceses dizem “je t’aime“, não “je aime toi“).
- Processá-lo cognitivamente (comparar com sua língua materna, por exemplo).
Exemplo:
- Input: Ouvir 100x “she has gone“.
- Intake: Perceber que “has + particípio” indica ação passada com relevância no presente.
Swain vs. Krashen: O Duelo Teórico
Enquanto Krashen priorizava o input compreensível, Swain mostrou que output e feedback são o outro lado da moeda:
Questão | Krashen | Swain |
---|---|---|
O que causa aquisição? | Input compreensível (i+1) | Output + noticing de erros |
Papel do erro | Natural, não precisa de correção | Oportunidade de aprendizado |
Foco no ensino | Exposição massiva a conteúdo | Tarefas que exigem produção |
Crítica mútua:
- Swain: “Input sozinho cria espectadores, não falantes.”
- Krashen: “Output é resultado da aquisição, não causa.”
Aplicações Práticas Para Seus Estudos

Como usar Swain hoje para acelerar sua fluência:
- Fale Antes de Estar “Pronto”:
- Use shadowing (repita diálogos de filmes) ou grave áudios no idioma-alvo mesmo com erros.
- Peça Feedback Ativo:
- Em trocas linguísticas, peça para nativos corrigirem 1-2 erros por conversa (ex.: “Como se diz X naturalmente?”).
- Escreva Para Refletir:
- Mantenha um diário no idioma e releia depois com um tradutor (ex.: DeepL) para identificar padrões de erro.
Críticas e Limitações
Nenhuma teoria é perfeita:
- Output Sem Input é Vazio: Produzir frases sem base de vocabulário/gramática gera fossilização de erros.
- Ansiedade do Output: Muitos aprendizes travam sob pressão para falar — o que ativa o filtro afetivo (Krashen tinha razão aqui).
Próxima Teoria de Quinta: Jean Piaget
O que esperar: Se Vygotsky e Swain falaram de interação, Jean Piaget nos lembrará que a mente constrói a linguagem — mas só quando está pronta. Exploraremos:
- Estágios do Desenvolvimento Cognitivo: Por que crianças de 2 anos não conjugam verbos (e o que isso diz sobre adultos aprendendo L2).
- Assimilação e Acomodação: Como seu cérebro adapta novas estruturas linguísticas a esquemas mentais pré-existentes.
- Piaget vs. Vygotsky: A linguagem molda o pensamento, ou vice-versa?
Sneak peek: “Se Krashen e Swain brigam por ‘input vs. output’, Piaget diria que ambos ignoram como a pré-condição cognitiva afeta tudo.”
Reflexão Final: O Que Fica?
Swain nos ensina que:
- Falar é um ato cognitivo, não só comunicativo.
- Erros são dados valiosos — se você os notar (daí a importância do intake).
- Teorias se complementam: Combine input massivo (Krashen) + output intencional (Swain) + mediação social (Vygotsky).
E você?
- Já percebeu como errar te fez aprender mais rápido?
- Acha que output deve vir antes, depois ou junto com input?
Debata nos comentários! 💬
Por Que Essa Discussão Importa?
Swain nos tira da zona de conforto do “só ouvir podcasts” e coloca a responsabilidade onde ela está: em sua boca (e caneta). No fim, línguas não são adquiridas — são praticadas.
*(P.S.: Swain ainda publica estudos aos 80+ anos. Que tal um “Teoria de Quinta: Edição Vivos” com ela e Krashen?)*
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